domingo, 31 de agosto de 2008

CONFISSÕES

(Tela:Salvador Dali)

Vim confessar minha amargura:
queria fazer uns versos
que epinassem pipas
contassem estrelas;


desfolhassem desesperos;
fossem overdose de plumas
e ternura
aplacassem iras
ressucitassem
tuas manhãs;

Meu poema,amigo,
é rijo
maledicente
não canta como sabiás
opaca luminosidade,

é aguado e mordaz
não tem lírios nem
galos
anunciando alvorecer.

Perdoa-me por esse poema
raquítico,assombrado,acuado,
e sem vitrines,
embriagado de solidão
e dor
que tece o medo,borda agonia
e me consome de silêncio,frio
e desolação .

sábado, 30 de agosto de 2008

CONFISSÕES DE UM PAI


Olha filho,não mergulhastes
no meu leite,
nem fizestes labirinto de luz
no meu útero,

fui bailarino desafinado
e sem asas
canção de melodia escura,
guerreiro trêmulo
numa batalha sem prumo;
nas madrugadas assombradas
fui o último a sair do sono!

Uma sisudez, olhar ríspido
fala cortante,umas gotículas
de afeto/uma solidão fervente,
fui ,quem sabe, ilha deserta
fluindo e fugindo das tuas retinas;

sou doce/docemente displicente;
exalo ventos de azedume,

mas creias ,filho meu
no subterrâneo do meu peito,
e nas vértebras tácitas da minh'alma
habita um coração materno.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

POEMA


Se estás fragmentada
cola teus pedaços
nos olhos da noite;

dormes ouvindo um poema
que o silêncio esculpiu;
escutas o que tens pra te dizer,
amanhecerás inteira e ávida.

A vida,tu sabes /não é uma metade.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Indistinto


Sobre salivas movediças
lapido meus passos alquebrados,
eles enferrujaram antes do depois,

meus olhos calejados de horizontes
amorfos e sombrios,calam-se.

Abro a janela ,vislumbro
novas paisagens envelhecidas.

Quero correr,
o mundo é mais ágil e gelatinoso,
sento-me entre arestas e ruídos
sobre meu túmulo de papel crepon e eclipses.

POEMA


Alinhavo meus dias
com lama ,silício e rumores
sorvendo dores sobre o ombro
das horas;

o desespero se aloja
na minha medula.

Convido para irmos de mãos dadas
deslizar em oásis impoderáveis,
mas as mãos são feitas
de matéria fluída!

O mundo lânqüido e morfino escorre
por entre pedras quentes
e calejadas,

um grito canta estridentemente
silêncio de desacordo;
deito-me num sofá de brita
almoço uma certeza cética
adormeço sem fim nem recomeço.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

SUWING

SUWING

Estive na cama com Clarice
Florbela,Adélia,Cecília,Lombard
Coralina:
meu corpo exauria línguas
ancinadas
minha alma esculpia
metáforas
de corais ,
arrecifes
e luxúrias.

Apocalípse de versos aveludados
salmos apócrifos e rezas molhadas;

fui comido,carcomido,trucidado
elas lambiam meus desvelos
faziam ilhas de bolhas de sabão
em meus espelhos de aldodão;

fui atado,acorrentado
e dissolvido,
resoluto,amanheci sobre um
Prado
entre lençóis esmaecidos.

Desabitado,
coração Lispecto pariu
um poema sincopado.

POEMA DE SETE FASES(Para minha amiga Italiana LUCIA HELENA VERONEZE )



I

Já fui Greta Garbo comendo
horizontes,
Pandora derramando segredos,
dancei bolero nas nuvens e tangos
entre arco-íris.
Sou o múltiplo de mim mesmo
avesso de olhares alheios.
Fui Alice ruminando espelhos;
Mãe d'água
deslizando nas línguas das brisas!
Sou visgo,riso,rabisco,estiagem!

II

Se me desejas como menina,
sou mulher entre larvas,
alcochoada ,fervente,
uma Bela Adormecida acordada;

artesã dos dias , escultora
das noites ,sou todas e ninguém
turbilhão de nada, taça de tudo.

III

Talvez,quem sabe,um Ravel retorcido,
e por ser tão várias,sou uma só
coração grávido de sementes!
Se queres umas manhãs
de intermitentes primaveras,
basta regar-me com sutilezas,
arranhões, beijos vulcânicos e vadios.