quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Também Tenho Uma Itabira



Essas estradas de casaco de lã
e sobretudo
percorrem
rios áridos
por dentro de mim.

Trazem estórias de medos
e lástimas
deságuando entre poeiras
sólidas e cacos de dores
míticas.

Contam lendas da rua do Fogo
peripécias da rua da Palha
e as alegrias das quengas
temperando
de gozos silenciosos a rua do Taguarí.

Terra de muitos enigmas
e do lobisomen Cotinha
(farejando calçadas
nas noites de lua cheia.)

Quantas vezes almoçávamos
tortas de Curupiras
e cozidos de "cumade" fulôzinha
no
terraço sem luz
da nossa casa ?!

Como dói
esses meus olhos
assombrados
galopando apressados
entre fadigas e lembranças!

A rua do Cemitério
adormeceu
entre brumas e fuligens
e teima em acordar todos os dias
entre os lençois amarrotados
da minha cama.

Uma embriaguez
de mangas,"jabóti cabra", rolimãs
jaca, cana caiana, "curuja" ,pião
açudes,novelos,garapa de engenho.

Como a Itabira de Drummond
essa cidade mergulha afiada
nos meus pântanos
acariciando meus cabelos,
(catando lêndeas na memória
enquanto não adorneço de vez.)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Mairy e os Passarinhos



Perguntei aos pássaros,
com quantos fios
se faz um
ninho,
com quantas notas
uma canção,
com quantas gotas
um riacho?

E eles replicaram sorrindo:
_Só te responderei se me disseres
como se faz Mairy
mais forte que uma
rocha
mais suave que nosso
ninho!?
Flor de todas as tardes
crepúsculos sem morte
do sol
e embriaguez sem ter vinho?

...Então Mairy lhes disse
com agudo olhar de lince
a resposta mais sincera:

Mairy se faz com a lua
cheia de mistérios solenes
duas pitadas de gente
(o tempero de Sebá)
e um umbigo torneado
(o de Gel, que é minha mãe),
o aroma das maçãs
e as uvas com seus cachos

imitando meus cabelos.
Faz-se com o mel
das palavras
e a paciência dos ouvidos.
Ano a ano como as flores
em cada uma primavera

faz-se como a luz de vela
e também com música boa;
faz-se com brilho nos olhos
e a alegria de ser uma pessoa.